O medo de ser abandonado nasce connosco.
Assim que saímos da barriga da nossa mãe e sentimos o frio e a luz cá de fora, desejamos com toda a nossa força voltar lá para dentro, para o escuro quentinho da barriga materna.
Obviamente isso não acontece mas, como compensação, são-nos ensinadas outras formas de mimo que compensam esta falta iminente: é-nos dado colo e ensinam-nos a mamar leite quentinho que nos conforta.
O calor dos beijos e a respiração da nossa mãe começam a ser novas formas de energia que nos vão compensando o desconforto inicial inerente ao nascimento. Quanto mais estreito for esse contacto com a nossa mãe mais segurança adquirimos e armazenamos para o resto da nossa vida.
Ao contrário, se no momento do nascimento, por qualquer motivo, o bebé é privado deste contacto maternal, o que vai desenvolver é um medo aterrorizador de tudo o que o rodeia e, sobretudo, de ter perdido aquele ser quente que o transportou, alimentou e embalou durante toda a gestação. Isto acontece frequentemente nos casos de cesarianas em que as mães ficam impossibilitadas de pegar no seu bebé de imediato. Os minutos ou horas que intervalam este reencontro podem deixar marcas permanentes no subconsciente de um recém-nascido.
Após esta fase, também durante a infância se pode gravar na nossa mente este medo do abandono. Por motivos de maus tratos por parte de adultos ou de abandono efectivo; pelo nascimento de um irmão mais novo que exige mais atenção e disponibilidade por parte dos pais; pela entrada para a escola que reduz drasticamente o tempo diário em contacto com a família; etc.
E mais tarde, na fase da adolescência, podemos também desenvolver este medo do abandono, mesmo sem nunca o termos sentido anteriormente em nenhuma das situações que atrás descrevi. As diferenças hormonais conduzem a sentimentos exacerbados nos mais diversos sentidos, sendo que os relacionados com situações de namoros podem deixar marcas profundas na nossa consciência afectando mais ou menos directamente a nossa auto-estima.
Não tendo tido qualquer contacto com qualquer das situações descritas anteriormente, podemos ganhar o medo do abandono simplesmente porque, já na fase adulta, fomos sujeitas a uma experiência de abandono efectivo por parte do nosso companheiro.
Normalmente uma mulher que sofre de medo do abandono, quando comprometida, tende a aceitar qualquer comportamento do seu companheiro sem reclamar, como tentativa de manter os laços que os vinculam e não provocar uma situação de ruptura que leve ao abandono por parte do outro.
Quando não comprometida, tende a fugir de relacionamentos algo estáveis com medo que os mesmos terminem ficando de novo sós.
Este sentimento de solidão é, na maior parte das vezes, sentido como algo repetitivo que sucede apenas porque a outra parte a deixou. Não são avaliados os verdadeiros motivos para tal ruptura mas apenas exacerbada a sensação de abandono.
Como sucede na maior parte dos medos, o medo do abandono não é facilmente reconhecido.
Todas achamos que não o temos mas ele faz parte da maior parte de nós.
Porém, tal como todos os outros medos, ele está constantemente connosco, quer reconheçamos a sua presença quer não. Ele habita no nosso subconsciente e influencia a nossa vida de forma mais ou menos marcante consoante a fase que estejamos a atravessar.
A pior parte desta presença é que o medo funciona como um íman. Onde existe o medo do abandono acaba por se atrair para si pessoas e situações com as quais vivenciamos a manifestação desse medo, neste caso o abandono.
Procurá-lo, encontrá-lo e reconhecê-lo no nosso interior é meio caminho andado para que o mesmo seja ultrapassado deixando, de uma vez por todas, de limitar o nosso quotidiano e todas as nossas atitudes e pensamentos.
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