A Criança Interior

A criança interior é o nosso verdadeiro eu, o que corresponde à nossa verdadeira essência, ao nosso estado interno natural e harmonioso. Frequentemente, os desequilíbrios sentidos na idade adulta, as dificuldades de comportamento, as reacções compulsivamente auto-destrutivas e de medo irracional perante certas situações são fruto da "violência" emocional e psíquica, quando não física, a que estivemos sujeitos em crianças.
Ao estabelecer contato com nossa criança interior, vamos conseguir libertar muitas emoções que estão presas em nós desde a infância. Em alguns momentos, esse encontro pode ser muito doloroso, pois não é fácil recordar o que nos fez sofrer, mas ao mesmo tempo é libertador lamentar com ela (a criança) nossas dores reprimidas, deixá-la chorar livremente e principalmente descobrir que não é verdade o que nos fizeram acreditar sobre quem somos.

“Não importa o que fizeram connosco, o que importa é aquilo que fazemos com o que fizeram de nós”.

Todas nós somos crianças feridas, vestindo corpos de gente grande, como num daqueles momentos de descoberta infantil quando a menina veste as roupas da mãe e o menino as do pai.
Todas nós fomos, em algum momento, feridas de alguma forma. E, como somos humanas, na maioria das vezes não reconhecemos a ferida e, mesmo se a percebemos, não sabemos como curá-la. Dessa forma, crescemos carregando uma chaga que continuamente nos faz sabotar todas as nossas tentativas de felicidade.
Para entender e ter o domínio sobre nossas dificuldades emocionais é essencial tomarmos conhecimento de como elas se originaram. Todas as emoções e sentimentos que nos marcaram ficaram registrados em nossa memória de acordo com o nível de maturidade em que nos encontrávamos quando os vivenciamos, ou seja, os registros emocionais inconscientes de nossa infância, permanecem sob a ótica da criança.
Se fomos magoadas, incompreendidas ou negligenciadas, estes sentimentos estarão por trás de qualquer relação que venhamos a estabelecer na vida. Deste modo, a carência, o sentimento de desamparo e o medo do abandono permearão nossas atitudes em relação ao outro, ainda que racionalmente não tenhamos consciência deste fato.
Quando perdemos a conexão com nossa criança, nos sentimos abandonadas, sozinhas, mesmo quando acompanhadas, ou ainda, nos tornamos duras, inflexíveis, frias, agressivas. A criança interior abandonada nos torna adultos com medo de errar, sempre buscando aprovação, reconhecimento, enfim, sempre buscando amor. Quando choramos, é nossa criança abandonada que chora.O modo como fomos tratadas quando crianças é o modo como nos trataremos pelo resto da vida e o modo como muitas ainda tratam seus filhos. Inconscientemente, transformamos nossa vida numa eterna corrida, buscando desesperadamente encontrar o que julgamos não ter recebido, e tentando resgatar depois de adultos, ainda que muitas vezes de forma destrutiva, aquilo que acreditamos não ter tido quando crianças. Mas isso pode mudar ao reencontrar nossa criança interior abandonada e perdida.
Vamos resgatar esta criança, perdoando primeiro a nós mesmas e depois a todos aqueles indivíduos que nos feriram. E, então, vamos trancar a porta do passado, percebendo que ele não existe mais (na verdade só existia em nossa mente) e voltarmos nossa total atenção para o presente.

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