Os Amigos

Os nossos amigos são as pessoas que validam as nossas histórias. Aqueles que nos dão razão quando sofremos. Validam o nosso sofrimento. São aqueles que concordam quando tomamos uma decisão. E se discordam precisam de se justificar.

Quando uma pessoa amiga se queixa, pergunto-lhe se procura ajuda ou se quer apenas queixar-se. E se me responde que quer apenas queixar-se, posso recordar-lhe que se queixa à pessoa errada.

A mente tem pensamentos, e nós acreditamos que são nossos. Não o são. Nunca. Pelo menos aqueles pensamentos que nos causam mal-estar. São pensamentos da humanidade, a repetirem-se há milhares de anos.

“Ele não me ama.”
“Os meus colegas não dão valor ao que eu faço.”
“Os meus filhos não me respeitam.”
“O governo é corrupto.”
“A vida é difícil.”

Sempre os mesmos pensamentos. E todos mentira.

Não há nada de errado em pedir um abraço, ou uns mimos ou um afecto. Mas não fiques à espera que os outros adivinhem o que pretendes deles. Diz-lhes. E se pedes um mimo a uma pessoa e ela te diz “não”, perfeito! Sabes que essa não é a pessoa a quem pedir mimos. Pede a outra. Eventualmente alguém irá dar-te o que pedes. E a pessoa que não te quer dar mimos não deixa de ser tua amiga. Em realidade, é tão tua amiga que não finge. É sincera. Poderia ser mais amiga?

Quando acreditamos que a vida é difícil, estamos em realidade a acreditar que podemos controlar a vida. Como se tal fosse possível. E em realidade a vida é extremamente fácil, se eu não ditar como deve ser. Observo a vida a acontecer, e faço escolhas perante aquilo que acontece. Não sei as respostas, e é delicioso permanecer neste estado em que não sei. Ao não saber permito-me fazer perguntas relevantes. E respondo a essas perguntas. Tudo dentro de mim.

A partir do momento que começo a despertar dou-me conta que não controlo os pensamentos na minha mente. Não é possível. Mas posso questionar cada pensamento. Escrevo num caderno os pensamentos que me provocam mal-estar. E depois procuro a sua veracidade. Até hoje ainda não encontrei um pensamento que me causasse stress como sendo verdadeiro.

Ainda acreditas, por exemplo, que há pessoas más? Como é que tratas as pessoas que rotulas de más? Como te sentes na sua presença? O que fazes?

Muitas vezes julgamos a pessoa em vez da acção. Será que há pessoas más? Ou será mais verdade que por vezes as pessoas têm comportamentos maus? E se no comportamento mau de alguém houvesse algo de bom para mim, o que seria? E se eu não pudesse ter este pensamento “há pessoas más”? Como me sentiria perante o outro sem este pensamento?

O que observo é isto: quando acredito no pensamento de que há pessoas más, eu mesmo me torno mau. Afasto-me, torno-me agressivo, defensivo, silencioso, amuado. Espero que o outro adivinhe os meus pensamentos. Poderia eu ser mais mau?

Mas se acredito que cada um faz sempre o melhor que é capaz, de acordo com os pensamentos em que acredita no momento, como poderia ver maldade? Não é possível.
E um amigo diz-me que adora o meu trabalho. Consigo sorrir e concordar. Eu compreendo. E outro amigo diz-me que o meu trabalho é péssimo e lhe provoca mal-estar. Consigo sorrir e concordar. Eu compreendo.

O que os meus amigos podem não saber, é que não faço nada à procura de validação ou aprovação. Tudo o que faço faço-o pelo amor que tenho por mim. E amo-me tanto que estou receptivo a qualquer critica.

Quando conseguimos sentir a verdade disto: Eu sou tu. A vida torna-se deliciosa.

Adoro os meus amigos. Todos sem excepção.

Emídio Carvalho em "A Sombra Humana"

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